[SEM_ÁUDIO] [SEM_ÁUDIO] [BARULHO] [BARULHO] [BARULHO] [BARULHO] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [INCOMPREENSÍVEL] >> Essa reza foi a minha avó que passou para mim, para eu cantar. Para a gente agradecer, o jovem agradecer os mais velhos, agradecer o nosso deus [INCOMPREENSÍVEL] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [MÚSICA] [BARULHO] [INCOMPREENSÍVEL] Obrigado. [BARULHO] >> Então é isso. E aí? >> Posso me apresentar? Eu vou me apresentar primeiro. Eu sou Ademilson. Eu sou conhecido como Kikí. Meu nome indígena é [INCOMPREENSÍVEL]. Português significa menino brilhante. Eu fui batizado pelo meu vovô que ele já faleceu, a minha avó também faleceu. Ele já foi grande rezador da minha aldeia. Ele ajudava muito os jovens, ajudava muito outros jovens. Aprendi com ele. Ele passou todas as rezas, os cantos, a cultura, para aprender a caçar, aprender a fazer [INCOMPREENSÍVEL]. Tudo que é história ele passou para mim. A história da Lua e a história do Sol também. Como que era o [INCOMPREENSÍVEL] da terra. Eu faço parte do ASCURI, é uma Associação Cultural de Realizadores Indígenas. Eu sou cineasta também e sou estudante do Darci Ribeiro, do Rio de Janeiro. Estou fazendo uma gestão lá. Ano passado eu morei no Rio de Janeiro, 2018. Agora eu estou voltando. Voltei Abril para lá, para terminar o meu curso. Estamos aqui agora. Agradeço a vocês, a Jakeline, o Luis. Então é isso mesmo. Agradeço a todos vocês que estão aqui. Então é isso. >> Pode rir também. Pode rir. A gente tem mania de rir. A ASCURI é muito pegada com a brincadeira. O jeito de fazer cinema é muito brincadeira. É uma brincadeira, na verdade. A gente vai as vezes set de filmagem não-indígena e brinca. É só briga, briga, stress, aquela doideira. A gente vive de muita brincadeira. Não tem muito essa seriedade que as pessoas buscam, a gente não consegue passar. Vamos lá. Eu sou Gilmar, sou Terena, lá do Lalima, no Mato Grosso do Sul. Meu nome na língua é [INCOMPREENSÍVEL]. [INCOMPREENSÍVEL] é aquele redemoinho que venta. Quem me deu esse nome foi o Anuti. O Anuti foi a pessoa que é rezador. A gente se aproximou muito dele numa época, 2010. De 2010 para cá e acabamos aprendendo monte de coisa legal e ele me deu esse nome. E a gente lá no Mato Grosso do Sul tem uma associação chamada ASCURI, é Associação Cultural de Realizadores Indígenas, desde 2008. A gente trabalha com produção e formação de jovens para cinema. Nesse contexto, antes disso eu e Eliel começamos com o Ivan. Ele é o Benites, que é Kaiowá e a gente começa com o Ivan Molina lá na Bolívia, La Paz. Ele é Quechúa e tem uma escola de cinema lá La Paz, que já vinha trabalhando, já tinha 20 anos de documentário quando a gente se conheceu. Ele foi da primeira turma de San Antonio de Los Baños, de Cuba 1986 ele estudou. Então ele tem uma influência muito grande no cinema social mais voltado para a questão comunitária social, essa coisa mais política, pouco diferente do que o cinema tem hoje. Mas a Bolívia tem essa perspectiva desde antigamente, desde os ano 60 do cinema social. Quando aqui estava fazendo pornochanchada, lá estava cinema social. Mais ou menos nesse época assim. Então a gente aprende a fazer cinema de jeito que a gente não tinha parâmetro antes. Apesar de eu estar na faculdade e na faculdade na época ter graduação, na minha graduação ter uma edição, ter coisa de fotografia, mas não tinha muito parâmetro. Então a gente aprende com o Ivan e uma primeira coisa que a gente percebe, que a gente aprende é que o cinema é uma ferramenta para a gente fortalecer nosso povo. Era nossa responsabilidade, como jovem, na época eu tinha 22 anos, 23 anos, era que isso era para fortalecer o povo. A filosofia da linha do Ivan era, ele é contra festival, filme participar de festival, filme indígena participar de festival. Ele entendia que filme indígena não tem como competir com o outro. O povo tal é melhor que o povo A, ou melhor que o povo B. As linguagens são muito diferentes de cada povo. Teria que se adequar uma linguagem para ter júri, que é o júri que tem. Esse juri aprendeu a vida inteira cinema europeu, cinema americano e ele vai julgar filme indígena. Então são coisas que o Ivan não aceita e aliado ainda a questão de premiação com dinheiro. Você tem lá uma premiação de R$50 mil Reais, R$60 mil Reais, R$100 mil Reais. O que você vai fazer com esse dinheiro quando você volta para a aldeia, sabendo que nem todo mundo estava no filme. Vai criar uma situação que não é confortável. Então ele parte destes princípios e a gente aprende a fazer filme desse jeito, valorizando o coletivo, sempre valorizando o coletivo. Não ter esse hierarquização que tem os O padrão de cinema que tem na cidade, de diretor, de roteiro, de produção rodava muito, tipo rodízio. Uma hora uma estava na câmera, outra hora estava na produção. Uma hora tinha que gravar banheiro porque não tinha banheiro, tinha que fazer banheiro, outra hora tinha que lavar o banheiro, outra hora tinha que fazer comida. Então era uma coisa que fazia rodando. E assim a gente foi crescendo e foi aprendendo, só que para a gente hoje parece que é errado porque a gente chegou na Escola Darcy Ribeiro e outras escolas de cinema do Rio de Janeiro e outras produções grandes o nosso jeito parece assim, que não faz sentido. Nada faz sentido. É uma coisa que a gente parece que inventou da nossa cabeça e é muito fácil você convencer de que é errado. Todo mundo faz de jeito, todo mundo ganha dinheiro, todo mundo é famoso e a gente chega lá e não tem nada. Como é que vocês fazem filmagens? Faz sim. Não, mas isso não rende, isso não dá nada. Vem para cá, vem deste lado aqui. É muito fácil parecer que está errado. >> 2008 a gente conheceu o Ivan Molina. Esse momento foi Campo Grande. Eu gostava de tirar foto, filmar e o Ivan falava para nós sair na aldeia. Chegando na aldeia estamos na aldeia e começa a gravar tirar foto também. Eu não gostava de filmar não. Depois que eu fui me apaixonando pela edição. Aí larguei o lado fotógrafo e fui para a edição. Eu queria aprender como é que faz o filme, como é que faz o corte. Eu não sabia de nada. Eu fui aprendendo, conheci o Ivan, conheci outros cineastas Kaiowá também, que ele já aprendeu a fazer edição [INCOMPREENSÍVEL] Kaiapó. Eu sempre ficava do lado dele para fazer o filme, depois disso nós trouxemos o audiovisual na aldeia, na minha aldeia foi durante [INCOMPREENSÍVEL] 2010 e a gente começou a reunir os jovens e tem muito jovem que quando você vai na casa dele, você convida ele e ele fala, não, eu vou e no outro dia ele não vem. Igual rezador também. O rezador quando você for na casa dele para fazer filmagem, ele manda você vir, ele fala assim, vem amanhã, amanhã a gente filma. Mas tem que levar muito na amizade com o rezador para fazer filmagens com ele, porque o rezador é assim, na aldeia quando você vai num lugar assim, você não pode chegar com câmera, microfone, de jeito com tempo marcado, hora. Você pode chegar lá tranquilo, levar livro para ler, conversar, fumo, alguma coisa, chimarrão. Conversar muito com ele aí depois você vê se pode deixar filmar, se pode ou não, se pode gravar só o áudio. [INCOMPREENSÍVEL] autorizado. E quando você chega com o equipamento, assusta eles, porque o rezador tem o espírito que a gente não consegue ver. Quando você chega de surpresa ele não conta a verdade, ele conta outra coisa que nao tem nada a ver. Por isso que cinema indígena, a gente trabalha não só com a câmera, a gente tem que trabalhar com o espírito também. O espírito que vai convencer, que vai no rezador o espírito que fala, tá certo, agora você pode ir. Aí que você chega lá junto com os cantos, com aqueles cantos. Tem que aprender o canto também para dialogar com o rezador. Tem que cantar uma reza para ele, para ele animar, esse jovem sabe mesmo. Não pode chegar lá sem nada, tem que cantar alguma coisa para ele. Alguma reza que você aprendeu com a sua mãe, com o seu pai. E aí a gente vai fazendo cinema, depoimento com ele aí ele conta a história. Depois você tem que mostrar para ele também o vídeo que você fez, porque os mais velhos gostam de ver no cinema. Ele vê na TV, é aí ele começa a falar, outro rezador também amigo dele, aí vai indo, juntando a história. Através da diversão a gente consegue fazer isso, porque o rezador fala que o jovem só quer saber da cultura dos brancos e não quer saber de nada da cultura. Porque na aldeia [INCOMPREENSÍVEL] o rezador não não vai atrás de você. Antigamente, o rezador reunia os jovens. Antigamente tinha aula de tocar aquele [INCOMPREENSÍVEL] chocalho, aprender a tocar chocalho, aprender a caçar, aprender a pescar, tudo tinha aula para nós antigamente. E hoje dia é muito diferente, eu vejo muito na aldeia que o jovem não quer se interessar mais, não quer correr atrás dos mais velhos. Porque os mais velhos são índios, eles querem deixar os cantos, a reza, a história, ele quer deixar para o jovem. Só que ele não vai atrás do jovem, você vem aqui que eu ensino a você, ele não vai. O jovem tem que correr atrás dele, pelo menos levar câmera, alguma coisa, ou gravador de áudio, porque o rezador ele já escolhe você, o espírito chama você, o espírito do rezador que chama você para você ir na casa dele e fazer [INCOMPREENSÍVEL]. Porque ele tem que contar a história, ele quer deixar tudo, porque ele já está velhinho, já é velho ele quer deixar a reza, tudo para você. Eu sou o único jovem que corre atrás dele lá. Estava aqui, aí no outro dia eu fui no outro rezador, eu ficava todos os dias frente do rezador querendo saber mais. Eu fiquei sabendo, mas eu queria saber mais. Tem os mais velhos, que tem os cantos deles que é muito sagrado, que ele não confia você, ele não quer passar a reza dele para você. Se você se interessar muito, se ele confiar você ele conta tudo também. A história dele não pode ser contada. Tem os cantos também que não podem ser gravados. Tem uma história que não pode ser nem filmada nem gravada, mas se ele deixar mesmo você gravar, você grava. Na minha aldeia tem [INCOMPREENSÍVEL], o menino do lábio furado. Antigamente ninguém filmava lá porque ele não deixava. Só deixava filmar áudio. Através do audiovisual que a gente consegue mostrar isso, mostrar nossa cultura, mostrar nossa língua também, língua tradicional. Através do audiovisual a gente consegue chegar perto do rezador também. Audiovisual para nós é impressionante, para qualquer pessoa. Nós jovens, quando a gente vê imagem, cinema, no telão a gente [INCOMPREENSÍVEL]. Parece professor que está ensinando [INCOMPREENSÍVEL]. O jovem que está ouvindo, a criança que está crescendo ele pode ver esse vídeo. O rezador pode não existir mais, mas o vídeo dele vai estar lá no Youtube, vai estar lá no DVD e a criança vai conhecendo nesse vídeo. Sempre vai estar falando falando da cultura. E esse material pode ficar na escola também. Na escola tem muito alunos e eles conseguem ver isso [INCOMPREENSÍVEL] A gente trabalha muito sobre documentário 80% do que fizemos, vários documentários sobre os remédios tradicionais, documentário sobre batismo do branco, documentário sobre a menina quando fica moça, o que a mãe tem que fazer. Tudo isso a gente filma, a gente deixa no Youtube. A gente não procura festival onde todo mundo vai ver. [INCOMPREENSÍVEL] na aldeia sem roteiro, chega na aldeia e vamos fazendo. Porque na aldeia, quando você chega parece espírito da aldeia. Você chega lá com equipamento [INCOMPREENSÍVEL] vamos lá, vamos conhecer o lugar. Aí você vai indo com ele e já começa a história, ele contando sem roteiros. [INCOMPREENSÍVEL] A gente foi na aldeia [INCOMPREENSÍVEL] a gente quando foi nas piscinas, depois terminou a piscina a gente estava indo embora, de repente a gente encontrou no caminho rezador Aí ele, que bom que vocês estão aqui. >> Ele estava sentado esperando a gente. A gente foi pelo outro caminho. Tem o caminho normal e o caminho pelos morros, pelas montanhas e a gente queria ver as montanhas, como é lá cima. Estamos indo embora e lá está ele sentado. Encostamos e ele falou eu estava esperando vocês. >> Faz horas que ele estava esperando nós e a gente nem sabia. [INCOMPREENSÍVEL] [INCOMPREENSÍVEL] que os moradores jovens de lá nunca tinha ido lá naquele morro e nós fizemos filme lá. Ele conta a história do morro, que antigamente existia o espírito [INCOMPREENSÍVEL] muito perigoso. Aí os rezadores se juntavam lá para espantar esse espírito mau. E nós fizemos vídeo lá Ele cantando antes de entrar no mar. Tem uma reza. Pega água, tem uma reza. Tem que pedir autorização para o dono do mar. >> Tem uma abelha também lá, que a gente ficou sabendo só depois. A abelha fica bem lá onde ele cantou. A gente filmando, ele fez todo a reza para subir e quando a gente terminou a reza, a abelha expulsou nós. E aí outro grupo foi lá para a frente e não deixou ele cantar não, ele já expulsou todo mundo. >> Para quê outro grupo? [INCOMPREENSÍVEL] Outro jovem que foi lá. >> Ele é bravo. >> Outro jovem foi lá, jovem ainda, devia ter dezesseis, dezessete anos. [INCOMPREENSÍVEL] Ele chegou lá, começou a fazer bagunça. A gente não era igual. Antes a gente veio aqui e não era assim. Isso vai dar alguma coisa. Nem me aproximei Os alunos começaram a rir, começaram a bater o pé no chão, nas pedras. Daqui a pouco veio a abelha e espantou todo mundo. >> Foi brabo. >> Mas isso não conseguimos filmar. Mas chegamos perto, tem abelha para atacar. >> Esperou. Esperou a reza acontecer, tudo filmado e depois. >> Depois está esperando nós lá. A gente nem sabia que as abelhas estavam lá. Elas estavam esperando nós lá. E a gente estava tão calmo, estava indo embora e fugiu deste filme. A gente foi atrás. Eles falavam, pode filmar? Pode. [INCOMPREENSÍVEL] bem alto. E nós fizemos isso filme. Tem no Youtube também. do [INCOMPREENSÍVEL]. >> Tem uma história também. Essa foi a filmagem que aconteceu. Tem uma história também que a gente queria ver o Anute, como é que ele benzia. Porque a prática de rezar para a pessoa curar lá para a gente é muito, quase ninguém sabe mais, ninguém nunca mais viu e a gente queria ver o Anute fazer isso, botar isso no filme. Para ele explicar, para a gente mostrar para todo mundo como é que é. E ele já com catarata. Vamos fazer. Aí beleza, fomos filmar, botamos a câmera e ele começou a fazer tudo e começou a acontecer monte de coisa sobrenatural, monte de pássaro começou a vir no terreiro onde ele estava e tucano, outros passarinhos não gostam de tucano porque o tucano come ovo de outros passarinhos. Ele expulsa o tucano. Daí começou a aparecer tucano, outros passarinhos. Veio o [INCOMPREENSÍVEL] tipo vespa preta, que voa no maracujá. Ela veio, desceu, estava eu, Nobi, o [INCOMPREENSÍVEL] e o Anute. Ela veio na cara de cada e a gente filmando, deixei a câmera lá e queria participar também aprender com o Anute. Daí esse [INCOMPREENSÍVEL] veio na cara de cada depois ele entrou no buraquinho e a gente lá viajando, aprendendo. Parecia outra dimensão. Quando fomos embora para colocar o cartão de memória para descarregar, fazer o log estava com vírus o cartão de memória e não gravou nada. Só gravou áudio. E provavelmente, não era para mostrar aquilo, mas a gente aprendeu, mas não dá para mostrar. >> E aconteceu também aldeia Jaguapiru também, que a gente filmou.[INCOMPREENSÍVEL] A gente foi lá, era evento [INCOMPREENSÍVEL] [INCOMPREENSÍVEL] Tinha uma erva que >> Erva mate >> Só homem pode ver isso, só homem também pode filmar e a mulher não pode ficar perto. Então eu fui filmando lá. >> A gente não sabia o que podia e o que não podia. O pessoal não era casado. Eles sabiam fazer, mas não era casado. >> [INCOMPREENSÍVEL] Mulher não pode ver isso, só homem pode ver isso. >> Tinha umas regras lá que a gente não sabia. >> Aí eu cheguei, pode filmar? Filmar pode, mas mulher não pode chegar aqui, nem entrar. A gente filmando e a mulherada só fica no outro lado. >> Parece que só uma menina sabia. As outras não sabiam. >> Fui tirando foto, filmando. Depois que a gente levou o cartão de memória para botar no computador e não registrou nada vídeo, perdemos todo o material. E agora? >> E material acho que ninguém nunca viu como era feita na época da Matte Laranjeira e eles estavam fazendo tipo uma recreação daquele processo. >> Posso perguntar? >> Pode. >> Porque vocês estão falando de todo esse processo das filmagens, que acontecem. Falando de colocar no Youtube e que existem regras do que pode e do que não pode ser colocado. Porque vocês fizeram vários vídeos depois, certo? Como que vocês fizeram para escolher os vídeos que vocês põem no Youtube, para quem que vocês acham que vai poder ver. Qual é o objetivo de vocês quando vocês colocam esses vídeos no Youtube? Qual é o objetivo da escolha? Fala pouco sobre isso. >> Teve vários momentos. Nesses dez anos que a gente faz, num primeiro momento, quando a gente aprende a fazer cinema, aprende entre aspas, estava aprendendo e ensinando ao mesmo tempo. A gente pensava que seria mais interessante que os nossos filmes fossem voltados para as aldeias mesmo. Para nossas aldeias e para aldeias de outros parentes. O que também deu diferença. A língua que é falada aqui, muda umas palavras lá. O sotaque. Uma dança aqui é diferente de uma dança lá. A gente queria mostrar como que era isso, se conhecer, se aprender e principalmente se fortalecer. Porque a gente, eu, o Elielton, a gente era cru ainda na nossa própria cultura. Existiu durante muito tempo a estratégia de que transformasse a gente branco. Então toda essa estrutura que a gente tem hoje de reserva, onde a gente mora, da língua materna na escola, tudo foi uma estratégia do Estado de que a gente se tornasse branco. Então boa parte desta estratégia funcionou, tem peso na nossa vida. A gente não tinha muita conexão, naquela época tinha menos, com essa ancestralidade que era ensinada pelo rezador. Então a gente entendia que o filme era uma ferramenta que, ao mesmo tempo podia fortalecer, mas também que podia causar uma fragilidade, mostrar ponto fraco nosso, ou trazer uma visibilidade excessiva, que no momento não era tão interessante. Primeiro a gente queria se fortalecer, se conhecer como povo para depois ir para outro passo. Então nossos primeiros filmes da quase nao tem legenda. Os nossos filmes são sempre na língua ou dois português tem. Mas é sempre na língua, porque a língua sempre foi o fio condutor da nossa estratégia. Como se fosse a demarcação do nosso território para além do território físico que a gente vive. Eu vi na língua canto, ou filme para nós representa que o nosso povo, nossa história está indo para além da onde a gente vive. Então a gente fazer filme na língua, sem legenda, para que só entendesse o pessoal da aldeia. Depois disso a gente começa a perceber que, a gente na verdade não percebeu que estava forte, mas aprendemos bem mas a gente precisava que a sociedade geral compreendesse a nossa força, a nossa cultura, a nossa alegria, o nosso jeito de ser, para que isso mudasse a opinião das pessoas com relação ao indígena. Aqui dentro da academia, eu acho que a maioria ou boa parte entende que existe outro jeito de ser, uma língua, que é povo que tem outra cosmovisão, outra cosmologia, outra epistemologia e tudo, mas a sociedade geral que está fora da academia, ela não entende absolutamente nada. Ela acredita naquela índio que ensinaram na escola. E este índio que ensinaram na escola, muitas vezes além de não existir mais, esses que estão aqui hoje não são mais índio e estão querendo uma terra que não faz sentido eles terem. Uns filmes que pudessem mostrar esse nosso jeito para ele se conhecer, para ele se aproximar da sociedade geral. Essa foi a segunda fase. A gente começa a fazer legenda e produzir mais filmes e botar no Youtube, para a galera conseguir ver, professor conseguir ver de longe e ter acesso. Mas que durou tempo também essa estratégia, mas também que não foi tão alcançada, porque o alvo do YouTube, os vídeos que a gente posta, os que tem mais visualização é vídeo que aparece gente morta, vídeo de briga, de luta, de tiro. [SEM_ÁUDIO]