[MÚSICA] [MÚSICA] Olá pessoal. Bem-vindos a mais uma aula, a mais tópico do nosso curso de pensamento crítico, lógica e argumentação. Hoje nós vamos ver tópico pouco diferente, que são os argumentos por analogia. É uma forma diferente de argumentar porque ele escapa da lógica, ele não escapa do bom senso e nem da linguagem. Da linguagem pouco, porque ele é pouco mais imagético, tem pouco mais de imagem, mas do bom senso ele não escapa, agora escapa da lógica. E os argumentos por analogia são aqueles onde a gente usa basicamente uma grande comparação entre duas ideias. Nós vamos ver o que são esses argumentos e principalmente como aceitar os bons argumentos por analogia e como refutar os maus argumentos por analogia. Como reconhecer argumento por analogia? Argumentação por analogia refere-se aos raciocínios nos quais as conclusões são tiradas por meio de comparação com outras situações semelhantes. Pode ser esquematizado da seguinte maneira, do seguinte formato: X alguma coisa X é A, e tem a propriedade P. Y é parecido com A, Y é como A. Portanto, Y também tem a propriedade P. Então exemplo, "Meu cachorro não morde e é Branco. Seu cachorro também é branco, portanto, seu cachorro não morde". Estou comparando o meu cachorro com o seu. Ambos são brancos, não morde, possivelmente o outro também não morde. Mas isso é só uma possibilidade, não tem nenhuma ligação lógica que me garanta que o meu cachorro sendo branco e o seu também, ambos têm o mesmo comportamento. A não ser que eu tenha uma lei universal que diga "nenhum cachorro branco morde", mas não parece que é o caso. Então seria esse bom raciocínio, você aceitaria? Quais objeções poderiam ser levantadas? Vamos ver alguns tipos básicos desse tipo de argumento, que são as metáforas, as parábolas e as fábulas. O raciocínio por analogia inclui metáforas e também parábolas. O que é uma parábola? Parábola é uma narrativa curta que ilustra uma lição, geral religiosa ou moral, por comparação. Por exemplo, as parábolas da Bíblia. Todo mundo conhece, não preciso dar exemplo aqui. E uma fábula, o que seria uma fábula? Fábulas envolvem, geral, animais ou plantas. Com intenção moral, as Fábulas de La Fontaine, as Fábulas de Esopo, famosas, que envolve historinha que tem bicho, planta e coisa desse tipo, com intenções morais de uma forma ou de outra. E uma metáfora é uma figura de linguagem que compara diretamente uma coisa a outra para certo efeito retórico. Por exemplo, na comédia teatral muito conhecida, As You Like It, de William Shakespeare, o dramaturgo escreve o seguinte, "O mundo é palco e todos os homens e mulheres são apenas atores". O que ele quer dizer com isso? Isso aqui é exemplo clássico de metáfora. Ele está comparando o mundo a palco, dizendo que uma coisa é outra. No entanto, não quer dizer que ele acredite literalmente que o mundo é palco. A comparação é uma comparação retórica, uma comparação artística. Então os argumentos por analogia não são lógicos no sentido que eles não são dedutivos. Como eles não são dedutivos, eu não posso dizer que argumento por analogia é válido ou inválido. Não se aplica a esse tipo de argumento a classificação de ser válido ou inválido, porque não é possível dizer que as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa e por isso ele seria inválido, etc., porque ele não é composto desse tipo de estrutura. Então a argumentação por analogia muitas vezes tenta chegar a uma avaliação de uma situação nova, baseando-se uma situação anterior. Ela pode ser usada para fundamentar ou para refutar argumento. Por exemplo, como é que ele vai ser usado para fundamentar? Quando eu estou usando ele diretamente para tentar estabelecer o meu argumento. Ou então eu posso usar para refutar argumento quando eu estou usando uma analogia. A força desse tipo de argumento está baseada na relação entre as situações que são analisadas, aí eu tenho que usar o bom senso para ver se essa relação é forte ou não. Vamos ver alguns exemplos ilustrativos. Por exemplo, legalizar a maconha. Alguém está dizendo o seguinte argumento, "Devíamos legalizar a maconha. Se não a legalizamos, que razões teremos para que o álcool e o tabaco sejam legais?" A análise é o seguinte, o álcool é legal, o tabaco é legal, logo a maconha devia ser legal. Todas essas substâncias são bastante semelhantes. Isso alguém está tentando argumentar. Contra-argumento é o seguinte, "Mas então, também deveríamos legalizar a cocaína, o ópio e outras drogas". Aí aparece contra, contra-argumento. Alguém diz, "Bom, mas espera aí. Estão falando da maconha, o resto é mudar de assunto". Quer dizer, essa discussão vai longe, ela não termina por aqui. eu não estou dizendo que já terminou o argumento. Nem todo argumento é óbvio e ele termina a hora que eu quero. Ele pode dar origem a grande debate, pode ser grande debate. Aliás, é o que acontece. O debate sobre a legalização das drogas não terminou e no mundo inteiro ele está andamento ainda. Alguns são favoráveis, alguns são contra, alguns países legalizaram, outros não. Não é hora aqui da gente tomar posição, estou dizendo que é uma coisa complexa. As boas analogias são fundamentais para a ciência. Por exemplo, já se provou que o DDT causa câncer ratos, logo, é bem provável que o DDT cause câncer seres humanos. Análise. Os ratos são de alguma forma semelhante aos seres humanos, logo, se os ratos contraem câncer com DDT, o mesmo aconteceria com os seres humanos. Conclusão, esse é raciocínio por analogia bastante aceitável e tem dado muito bons resultados na ciência. Análises com resultado de laboratório com droga, com esse tipo de coisa, são feitos com animais, é uma maneira pouco menos reprovável do que se fizesse com seres humanos. Embora tenha gente que ainda acha que não se deve fazer com animais, etc. Mas enfim, esse é outro tipo de debate. O que eu estou dizendo é que independente do argumento moral de se usar ratos laboratório ou não, o fato é que alguma coisa que funciona com rato por analogia funciona, geral, muito bem com seres humanos e vice-versa, se não funciona com ratos, também não funciona bem com seres humanos. Aí depois de ratos tem macacos, e tal, etc. Vamos ver aqui argumento moral usado esse tipo de coisa. Nos anos 90, 1990, apareceram os hackers, que são pessoas que conseguem ter acesso a redes de computadores de terceiros. Eles achavam, naquele momento, que o seu comportamento era moralmente aceitável, porque o propósito dos hackers naquele momento, quando os hackers surgiram, era ajudar o gerente de sistema a rastrear erros seus sistemas e antever ataques cibernéticos. No entanto, contra-argumento por analogia, veja agora o uso de analogia como contra-argumento, é o seguinte, "Você não vai à uma loja de roupas e ateia fogo nas roupas para ver se os procedimentos de segurança contra incêndio são bons". Isso se baseia na premissa oculta de que atear fogo roupas para testar a segurança contra incêndios é moralmente inaceitável. Analogamente hackear também é inaceitável, porque você vai estar atacando o sistema para ver se o sistema de segurança é bom. Então está se fazendo uma analogia entre o hacker atacar o próprio sistema e alguém atear fogo numa loja de roupas para ver se os procedimentos de segurança de lado e de outro são aceitáveis. Outro argumento muito mais complexo, vamos ver aqui argumento bem conhecido que prega o seguinte, vamos comparar bombeiros e soldados. Não se deve culpar os soldados pelas guerras. Culpar os soldados pela existência de guerras, é como culpar os bombeiros pela existência de incêndios. Essa é a proposta que alguém está fazendo. Alguém está propondo uma analogia entre soldados e bombeiros, dizendo que assim como não se pode culpar os bombeiros pelos incêndios, não deveríamos culpar os soldados pelas guerras. O argumento parece razoável, mas precisamos avaliar as semelhanças e diferenças. Então quais são as premissas que estão por trás aqui, premissas da analogia? Bombeiros e incêndios são como soldados e guerras por que? Bombeiros e soldados usam uniformes, ambos têm uma hierarquia de comando, são convocados, não podem desobedecer a ordem sem enfrentar as consequências. Então bombeiros ou soldados tem que estar lá cumprindo ordens. Ambos lutam contra alguma coisa, ou contra o fogo ou contra o inimigo. Mais premissas. A tarefa deles, de ambos os casos, termina quando termina o fogo ou quando termina a guerra. Então ambos tem fim na sua tarefa. Ambos arriscam a vida no desempenho das suas funções, tanto o fogo quanto a guerra matam pessoas. Os bombeiros não originam os incêndios e os soldados não originam as guerras. Tanto os bombeiros como soldados habitualmente gostam de beber cerveja. Bom, veja, a última semelhança é irrelevante, o fato de eles tomarem cerveja, gostarem de cerveja tem que ser eliminado porque não interessa, mas as outras parece que carregam alguma semelhança importante entre os bombeiros que combatem o fogo e os soldados que combatem a guerra. Mas tem que haver mais alguma coisa, não basta usar a palavra combater para dizer como ambos combatem alguma coisa. Então eles são muito parecidos. Nós podemos agora então apresentar uma seguinte lista resumida de semelhanças relevantes, tirando as que são irrelevantes. Os bombeiros estão envolvidos numa tarefa perigosa, os soldados também. A tarefa de bombeiro é acabar com o incêndio, a de soldados é acabar com a guerra. Os bombeiros não originam os incêndios, os soldados não originam as guerras. Todavia, mesmo que acrescentemos essas informações ao argumento original, não obtemos ainda bom argumento. Precisamos de princípio geral, uma espécie de cola que consiga fazer o trânsito entre uma situação ou outra e essa cola seria o seguinte, não devemos culpar quem ajuda a acabar com o problema, se essa pessoa não deu origem ao problema. E de fato, nem os bombeiros deram origem ao fogo, nem os soldados deram origem à guerra. Mas vejam uma diferença importante aqui. Será que a tarefa dos soldados é acabar com a guerra? Será verdade que os soldados não dão origem à guerra? Veja essa diferença. Mesmo que não houvesse bombeiros, haveria incêndios. Os incêndios acontecem independente de existir bombeiros no mundo ou não. Mas por outro lado, se não existissem soldados, não existissem quaisquer soldados lugar nenhum, não haveria guerra. Então essa diferença é importante. Incêndios podem ocorrer sem existir bombeiros, mas guerras não vão poder ocorrer se não existissem soldados de qualquer maneira. Se os soldados fossem extintos da face da terra não ia ter como ter guerra. E no entanto os incêndios continuariam a ocorrer. Conclusão, o nosso argumento original não é persuasivo, não é forte, ele se baseia numa comparação quase, quase representativa, ela quase, quase é convincente, mas no fundo ela é duvidosa, uma comparação duvidosa. Então veja, é uma arte, esse exemplo aqui é muito interessante, é exemplo grande e complexo, que mostra como é que é uma arte avaliar uma boa analogia. Não é trivial, é uma coisa que exige bastante bom senso e não existe máquina, não existe algoritmo, não existe computador que possa pegar duas analogias e verificar se elas são boas ou não. Tem que usar a nossa atividade humana. Eu quero agradecer mais uma vez pela atenção e convidá-las, convidá-los, ao nosso próximo episódio, ao nosso próximo tópico, a nossa próxima aula. Muito obrigado. [MÚSICA]